I - Refração
Ao mar não pertence o azul do céu, e a este
também não o pertence. O azul pertence, e unicamente ao sol.
Digamos que não passamos de superficialidade
como o espelho mar: reflete o céu que também é só uma ilusão criada pela união
do sol e dos gases. Ou seja, assim como o impetuoso mar, vemos o que queremos
em cada pessoa. Somos mais do que o mar ou o céu, somos um sol, afinal "do
pó viemos e para o pó voltaremos".
Ocorreu-me um porém: podemos ser belos como o
sol ou o peso que esta frase carrega: pó, sujeira, restos de pele morta. Do pó
das estrelas para o nada... Pó de estrelas. Desculpa, mas são meras bobagens
que tornam o homem um ser estupendo, tão estupendo que mata sua própria espécie
(ou outro ser feito de pó de estrelas, alguém igualmente grandioso como se faz
parecer mas que se matam. Onde está a grandiosidade nisso?) em nome de Deus
(?). Prefiro acreditar na frase sagrada "do pó viemos e para o pó voltaremos"
com a conotação de sujeira para o pó, do que ser moldado pela hipocrisia e o
narcisismo absurdamente grande dos cientistas.
Devaneios.
A refração que ocorre quando a luz do sol
incide sobre a atmosfera cria a ilusão do céu colorido, e o mar, por sua vez,
reflete esse ilusionismo. Como nós, acreditamos no que vemos sem se importar
com um olhar mais profundo, e por quê? Por preguiça.
Se duas pessoas se cruzarem e sorrirem, o
efeito contrário seria se uma das pessoas não tivesse sorrido, tudo possuí uma consequência.
Acasos. Assim como a poluição no céu que o torna rosa aos crepúsculos; um acaso
moldado pelo homem. Ah, e que sorte teria o homem... - Afinal, por que
utilizamos homem para quando queremos nos referir a nós mesmos, a nossa
espécie? Por que não mulheres? Talvez pelo fato das regras ortográficas
partirem do pressuposto de que o homem é maioria e de que ele deveria se
sobressair... Meras bobagens! Mulheres, e digo como um todo, eu, você, nós. E
se isso fere a sua masculinidade peço que se retire e não volte nunca mais. –
recomeçando: se mulheres pudessem moldar seus acasos jamais teriam sofrido com
desilusões, delírios, doenças ou medos. Seria como o rosa: duplamente ilusório,
duplamente um acaso, triplamente culpado - e por quê duplamente ou triplamente?
Logo explicarei.
Se a dor, pudéssemos nós mulheres, moldar aos
acasos, teríamos, então, uma bela vida sem paixão. E é o que explicarei a
seguir.
II -
Paixão e Euforia
De acordo com Epicuro e sua filosofia para
atingir a felicidade, devemos levar em conta quatro tópicos: a certeza, o
atomismo, o prazer e os desejos. A vida deve ser levada sem extremismo de
qualquer espécie, sem sensações/emoções que perturbem a alma e levem a extrema
felicidade (euforia) ou a extrema tristeza (depressão). Os desejos a serem
atendidos devem ser os mais simples e os naturais (fome, sono); e os frívolos
postos de lado (riqueza, fama). O que Epicuro não ensina é como treinar a alma
para que ela não pereça diante um desejo brutal ou, mais conhecido como, patologia
da alma: a passio e a euphoria.
A euforia é a alegria recorrente de um
momento ou lugar que invade o corpo e atinge a mente e o coração. É a
felicidade fantasiosa, ilusória que deixa a sensação de alegria e bem estar; mascara
a raiva, preocupações e tristeza. É a projeção do ser para socorrer a alma da
vertigem pela depressão, dando-lhe alguns instantes para lutar contra a
tristeza extrema. Euphoria é a capacidade de suportar o insuportável; é a
anestesia da alma.
Padecer diante alguém movido pelo desejo
irrefreável de suprir a chama interna acesa pelo vírus da paixão: é a patologia
que inicia todas as outras. É dela que temos conhecimento da tristeza, da
euforia, da obsessão, da raiva, ódio, vingança, suicídio, alegria, bem estar...
Amor. Movido cegamente pelo desejo crescente, a razão é bloqueada e o coração
domina o corpo com um único objetivo: suprir o desejo ardente da paixão de
exprimir-se e satisfazer-se, não há restrições nem limites. Há apenas dois
futuros para essa doença: o sofrimento ou a euforia compartilhada. Se caso a
paixão seja correspondida, o hospedeiro irá sentir-se completo e a doença irá
se tornar mais forte e irrefreável, nada a deterá e a euforia será compartilhada.
Se caso a paixão seja correspondida, o
hospedeiro irá sentir-se completo e a doença irá se tornar mais forte e
irrefreável, nada a deterá e a euforia será compartilhada, ambos os apaixonados
irão se sentir infinitos e únicos... Mas a queda será imensa.
O outro caso é uma paixão não correspondia, o
vírus é extinguido, mas o hospedeiro se torna depressivo, abalado, sem amor
próprio, ele perece diante o seu desejo não satisfeito. Em ambos os casos a
euforia em satisfazer o desejo é grande e incomensurável, assim como a euforia
compartilhada e a tristeza extrema. Se todos os apaixonados ouvissem Epicuro
entenderiam que não há futuro bom para quando suprido esse desejo.
III
– Rosa
Dentre o espectro de cores a cor de rosa não
existe. O cérebro processa toda informação recebida pelos nossos cinco sentidos
(eu digo que são seis, há quem diga que não). As cores são refletidas pelos
objetos e os nossos olhos absorvem o que veem. O rosa, porém, não se encontra
dentre o espectro de cores que os olhos conseguem enxergar, sendo assim o rosa
é uma criação do nosso cérebro, uma variação entre o vermelho e o violenta. Aí
está a nossa dupla ilusão, duplamente um acaso e triplamente culpado, e por
quê? Porque ele é uma cor inexistente cientificamente, logo, não posso usá-lo
como comparação, sendo assim ele é duplamente ilusório, é um acaso ocasionando
um terceiro: usei-o como explicação e comparação, criando, assim, um problema.
Triplamente culpado pelas ilusões.
Mas ainda sim, os olhos captam algo que os
objetos não possuem: as cores. Os objetos absorvem certas cores e refletem
outras, essas refletidas são as que conseguimos ver. São as cores que achamos
que existem, mas, que na verdade, são provenientes da luz.
As cores pertencem apenas ao sol.
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