O vapor se dissipa pelo banheiro. O tempo ali dentro parecia
passar mais devagar, mas quando eu saia, haviam se passado 40 minutos. Muita
reflexão, crises de existência e inspirações para que, no fim, quando eu saísse
do banho continuasse sendo a mesma pessoa e nada tivesse mudado. Isso se
repetia e se repetiria.
O espelho refletia
três de mim, talvez dois, talvez um. O mais provável é que fosse ninguém.
As curvas que eu possuo não me agradam, algumas vezes sim,
outras não. Ponho os óculos... tiro-os. Eles ficam tortos... talvez minha
sobrancelha direita seja torta, ou meu rosto... Meu nariz parece ser grande, o
sorriso com o aparelho não me agrada, e meu corpo muito menos. Há dias que me
sinto bem, outros nem tanto, esses são mais recorrentes do que aqueles. A única
coisa que amo em mim é o meu cabelo: castanho escuro, sedoso, franja longa,
raspado dos lados. Analisando melhor, minhas orelhas são delicadas e discretas.
Meus olhos são intensos e repletos de sentimentos.
“Os olhos são as janelas da alma e o espelho do mundo”,
diria Da Vinci. Mas como é a minha alma? Como ela é de verdade? Qual a minha
essência? Quem sou eu? De verdade...?
Eu não me sinto eu. Às vezes me sinto outro alguém, mais
forte, mais confiante. Sei que não nasci no corpo errado, eu talvez tenha
nascido com a alma errada, ou talvez seja minha última vida passada. Seja quem
for é ela quem me sustenta.
Os espinhos saem do meu peito e se enroscam entre si
formando um grosso tronco, da ponta desabrocha um botão de rosa vermelho vivo.
Sei que ela está ali dentro, e agora sai para provar para mim mesmo que sou
tudo e muito mais. Agora vejo nós dois e me sinto melhor.
- H.B.
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