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Olhos castanhos

O metrô segue veloz. 

Antes de parar na Sé, você me beija nos lábios e na testa, como em todos os dias. Mas então você levanta meus óculos e, segurando o meu rosto, você diz: seus olhos são lindos.

Eu sempre achei eles comuns, iguais aos de todo mundo que têm olhos castanhos. Nunca vi nada de especial. 

Mas você enxergou neles algo mais.

O metrô freia, anuncia a estação, e você desembarca dizendo o quanto gosta de mim. 

Depois que você sai do vagão, eu acho que entendo o seu elogio. 

Sempre tive necessidade de compreender as coisas, é assim que levo a vida. É preferível entender do que deixar as coisas serem. 

O que importa é que, nesses 15 segundos entre você desembarcar, subir as escadas, a porta se fechar e o metrô partir novamente, eu entendo o que você disse. 

O que você enxergou nos meus olhos que os deixam mais bonitos, que te fazem parar por 3 segundos só para me elogiar - que me faz arrepiar e me sentir amado.

O que você enxerga em mim, na verdade, é algo entranhando lá dentro, lá no fundo. Algo que eu exteriorizo e enxergo em você. É seu reflexo, é exatamente isso que eu enxergo: você. 

E para mim, você é feito de amor. É isso o que eu enxergo. É o amor que eu sinto por você e é isso o que você vê. 

Justo eu que sempre pensei que não existisse amor para mim. 

Mas agora eu sei que ele existe. E ele elogia os meus olhos que ficam tristes quando você desce e vai embora. 

Mas você sempre olha para trás, e isso que importa. 

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